Ser cristão é viver no limite
Não sei bem porque motivo nossas comunidades não tem nos ensinado mais isso. Pelo contrário, sempre saímos do culto com a impressão de que por sermos cristãos nos daremos sempre bem – da perspectiva da noção de sucesso do mundo – diante da vida. Adoramos perceber Deus assim, mas Ele nunca nos prometeu isso. Por algum motivo, esquecemos o convite claro que Jesus faz aos que lhe seguem: Abandonar tudo e segui-lo. Nossa crença está posta diante de um Deus que é apenas uma ideia que pode ser um conceito, uma filosofia, uma teologia, mas quando é necessário enfrentarmos uma situação crítica, as pernas da fé bambeiam e podem até cair.
Ser servo é saber que nós não determinamos nada a nosso respeito. A partir disso, constatamos que nada em nossa vida é nosso, nossos pais e filhos não são nossos, nosso dinheiro não é nosso, nossos maridos e esposas não são nossos, nossa saúde não é nossa, nossa vida não é nossa. Isso é dependência Dele. Ser servo de Cristo não é viver em uma bolha impenetrável, imune a maldades, mas pelo contrario, a bíblia diz que “no mundo tereis aflições” (João 16:33). Já parou para pensar o que significa isso? Jesus vai dizer que ser servo dele e segui-lo é atrair para si as hostilidades desse mundo. “Lembrai-vos da palavra que vos disse: não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardarem a minha palavra, também guardarão a vossa.” (João 15:18). Parecem pesadas essas palavras, mas a dureza delas é vencida pela certeza de que Cristo é o nosso sustento. Será que ainda acreditamos no que Cristo nos diz?
Ser servo de Cristo nunca foi uma tarefa fácil. Quando olhamos os personagens-chave das escrituras, ou seja, para as pessoas que realmente expressaram a voz de Deus, encontramos muitos caprichos e bênçãos sem medida, mas não podemos ignorar que muitos tiveram que viver em condições limite pelo simples fato de ser usado por Ele. A bíblia é rica de exemplos: Moisés peregrinou no deserto por quarenta anos (Deuteronômio 2:7), Abraão subiu ao monte para sacrificar o filho (Gênesis 22), Jó teve de perder tudo (Jó 1.13-22). Paulo foi esbofeteado todo dia por um mensageiro de Satanás (2 Coríntios 12:7-10). Sendo, assim, podemos concluir que portar o evangelho é um risco diante do mundo.
Em que está nossa esperança então?
Pedro vai escrever dizendo:
“Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando. Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome.” (1 Pedro 4: 12-16).
O que mais precisa ser feito para que entendamos que carregar o nome de Jesus não é viver confortavelmente como muitos querem que vivamos? Quantos de nós não entendemos a real convocação de Jesus de tomar a cruz e seguir? Quantos tem vivido fingindo conhecer a Deus, mas adorando um ser que não modifica nada em nossa realidade existencial? Quantos de nós professamos que Ele é o nosso Senhor, mas não suportamos a sua própria realidade quando caímos em vergonhas, passamos por apuros? Quem é esse Deus que não participa de relacionamentos? Porque nós vivemos desconfiando – ainda que não tenhamos coragem de assumir – de um ser que tem um caráter verdadeiro e íntegro? Você pode estar dentro de uma igreja e mesmo assim ir para o inferno.
Diante das aflições, podemos trocar a pergunta: “Onde está Deus?” por outra que é: “Em que Deus acreditamos?”Precisamos entender de fato porque é que somos cristãos, porque ser seguidor dele é superar a realidade religiosa. Se perguntasse a Paulo qual é o privilégio do Cristão, ele discordaria desse evangelho atual medíocre baseado no triunfalismo, e sem dúvida responderia: “Poder sofrer em nome de Jesus, e ainda por cima exultar pelo privilégio de sofrer em Seu nome”. Esse é o desafio do cristão: Dar graças em tudo.
Não desperdice a oportunidade de testemunhar Dele em meio a desgraças, porque elas estão sob o discernimento Dele, e por Ele mesmo, já foram vencidas. Ou morremos com Cristo, ou não faz sentido ser cristão.
Murillo Leal é colunista dos blogs Minha Vida Cristã e Grupo Evanart.

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