Uma noite histórica em Caruaru, para uma geração que viveu a explosão do bom rock evangélico dos anos 80 e 90 foi a do sábado, 26 de outubro, no Espaço Cultural Tancredo Neves.
O show foi promovido por Claudemir Nunes, de Santa Cruz do Capibaribe, que demonstrou ser uma pessoa séria, porém sem tanta experiência em relação a eventos em nossa cidade, ainda assim, como Jaelcio Tenório falou publicamente, Claudemir foi ousado e corajoso trazendo Catedral naquela noite e certamente abençoou muitas vidas.
Apresentando o evento, a mesma pessoa que esteve com Catedral em todas as outras vezes em nossa cidade, Jaelcio até corrigiu Presentia lembrando que a banda esteve 4 e não 3, como estávamos divulgando, sendo no Difusora, duas vezes no Forrozão e outra no Walter Lira.
A programação atrasou muito, iria começar às 20 horas, e neste horário ainda não havia sido aberta a entrada do público.
Mas, para quem esperou 10 anos, aguardar até onze e meia da noite para ver o que vimos compensou e muito.
O público pode ter sido considerado bom. Levando em conta pontos desfavoráveis como período que antecede dia de receber (perto do final de mês), o valor do ingresso (antecipado R$ 25,00) atrações sendo no mesmo estilo (segmenta um só público), falhas na divulgação e na promoção do evento e detalhes de infra-estrutura do local, ainda assim foi gratificante ver a equipe trabalhando harmoniosamente, a segurança muito eficiente, som e iluminação bom, etc. Pude encontrar na platéia músicos de grupos do passado, como Banda Nabhi, que interpretava no início de 90 canções da época, como Chame a Deus e muitos outros de outros grupos do passado e atual.
De início cantou Camilli Nunes, depois a estréia da banda Degraus e o Dhiego Nunes fechou o primeiro momento.
Quando Kim, Guilherme e Júlio Cesar subiram no palco foram logo dando o recado na primeira música:
“Quem fala mal de mim
São os filhos de Caim
A inveja mata, a inveja destrói
Corrói, mói, dói”
Daí em diante foram desfilando suas canções entre novos e velhos poemas musicados do Kim, sucessos antigos intercalados com novos. A emoção e alegria tomaram conta do público de mais de mil pessoas que com entusiasmo aplaudiam cada momento do show.
Particularmente fiquei feliz em ver tanta gente jovem cantando todas as músicas, do início ao fim, fato que também surpreendeu o próprio Kim, mostra que há uma possibilidade de sobrevida à juventude que tem buscado uma alternativa aos cânticos que predominam hoje na maioria dos ambientes eclesiásticos.
Voltando ao show, entre as muitas canções românticas, eles cantaram “Meu Bem”, versão de uma canção americana antiga “Mandy” cantada por Barry Manilow e também é trilha do seriado “Todo mundo ama o Cris”.
Outra que fez o Espaço Cultural “tremer”, com a euforia do público foi “Hoje”...
“Sem pensar no amanhã
O amanhã não pertence a você nem a mim
O amanhã pertence a Deus!”
Kim, mostrou-se o tempo todo feliz, apesar de cansado, e saiu da seqüência para atender ao público algumas vezes, outro momento imprevisto foi uma falha no contra-baixo, fez com que acontecesse um momento mais intimista levando o Kim a cantar algumas canções “solo”.
Depois o público voltou a “explodir” pontuando com rock mais pesado de “O Silêncio” com mensagens mais críticas ao comportamento farisaico-religioso
“Quando orares não sejais como artistas
Que falam palavras que não são suas
Que usam máscaras decoradas"
Foi mais de uma hora e meia de música “inteligente”, com qualidade, diferente do que predomina no famigerado mercado gospel.
O jornalista do Extra de Pernambuco, Jénerson Alves que acompanhou de perto todo evento relatou à Presentia que “a postura madura dos integrantes da banda dão equilíbrio à execução das canções.” E que “as letras do Catedral são compostas com peculiaridades surpreendentes.”
Para quem conhece, Catedral é daquelas bandas que apenas com um violão, um padeiro e um bongô, sentados num banquinho elevam uma multidão cantando. Podem ter todos os recursos tecnológicos a seu favor ou apenas as pessoas ao seu redor. “A qualidade e o talento são superiores a qualquer outro tipo de recurso, estratagema ou artifício”, acrescenta Alves.
Sobre o aspecto musical/poético diz que eles 'jogam poesia' nas composições com uma simplicidade fantástica, 'como quem tempera comida'.
Enfim, Jénerson concluiu afirmando que “ouvir e ver Catedral é uma forma de se conectar ao Eterno traduzido pela existência, sem 'espiritualismo' exacerbado, mas entendendo que o que há de mais sagrado na vida é a própria vida, o ser humano, os valores relevantes para uma caminhada salutar.”
Outra percepção sobre a banda chega a ser até frustrante para aqueles que esperam pela oportunidade de um autógrafo ou uma foto pós-show. Digo isso porque se espera do contato com os “ídolos” um momento de êxtase onde o ego do mesmo é supervalorizado, e no caso deles, com a mesma simplicidade que passam no palco recebem os denominados fãs, o caráter reservado dos ‘meninos’ da banda derruba o mito idolatra. Cyelen Veloso deixou isso registrado em seu blog (
veja aqui na íntegra) na sua experiência naquela noite com os mesmos após o show, no chamado backstage “Infelizmente o talento se transforma em estrelismo de tal forma que nos sentimos inferiores as pessoas talentosas.” E termina expressando “somos iguais e temos a mesma capacidade de sermos tão talentosos quanto!”
No calor dos camarins improvisados atrás do palco uma multidão se aglomerava esperando para registrar uma lembrança com os músicos. Entre eles estava a Cyelen com o disco LP “Você”, uma surpresa, pois foi o disco que lançou a banda no mercado há 25 anos, memorável não só por ser o primeiro, mas por ter dado ao grupo também o primeiro disco de ouro (150 mil cópias). Por volta das duas da madrugada, entre as dezenas já atendidas, o segurança informava que havia ainda cerca de cem pessoas na fila aguardando e que era melhor dispensá-los. Porém, nenhum “catedrático” que esperou saiu do evento sem ter o contato pessoal com a banda, Kim fez questão de receber um por um até o último.
As últimas palavras do Kim encerrando o show (e ele quase não falou, pois estava ali era para cantar mesmo) foram de agradecimento pela acolhida e de alerta para que os jovens não usassem as drogas e buscassem a Deus em suas vidas. Falou de Cristo e fez gestos de rendição e exaltação a Ele.
O Catedral pra mim não é só opção de ouvir uma música de qualidade é exemplo de vida, de resistência, de que a verdade prevalece diante da mentira, que o amor “nunca pode acabar...”
O tempo passou e os meninos continuam com a mesma essência de sempre, e foi assim como presenciei em todas as outras apresentações que fizeram por aqui.
Espero não ter que esperar tanto para vê-los e ouvi-los novamente.
Fonte: Presentia online