Primeira dirigente da Igreja da Renovação Espiritual em Francisco Morato, Bete Vieira Rodrigues andava pela região à procura de um presente para uma aniversariante de sua comunidade.
Recém-mãe, a moça ganhará duas camisetas – uma simples, estampada, e uma outra branca cravejada de apliques metálicos com uma mensagem Cristã. “Eu gosto de vir aqui porque sempre tem muito mais opção de tudo”, diz. A filha, Aparecida Luciana da Silva, de 38 anos, faz companhia e divide os afazeres com a mãe, na função de secretária da igreja. “Aqui é tudo metade do preço”, comemora Luciana, que aproveitou a passagem pela galeria para comprar presentes para o cunhado e o seu pastor.
Foi a baiana Nara Keila Oliveira do Carmo, 35 anos, que atendeu a dupla. Ela trabalha há nove meses na Teddy Camisetas, também na Galeria Conde de Sarzedas. “Recebo muita gente aqui de fora de São Paulo que acaba comprando no atacado para vender nos seus Estados de origem”, conta. Frequentadora da Assembleia de Deus, Nara sempre esteve envolvida com o mercado gospel. Antes trabalhava no Recanto dos Evangélicos, a RDE, uma das lojas mais antigas do local.
Entre as camisetas, a maior loja da Conde de Sarzedas, é a Cia dos Séculos. Com modelos mais atrativos para a juventude, aproveita os trocadilhos com os temas jovens como o Facebook e até os rótulos do bourbon Jack Daniels, que há muito tempo já estampam camisetas do mundo do rock. “As vendas de 2013 as vendas foram bem melhores que as do ano anterior”, diz Karina Paz dos Santos, de 26 anos, que trabalha na loja há seis. Todas as camisetas custam R$ 20 no varejo e R$ 17,90 no atacado. “Vem muita gente de fora de São Paulo buscar, mas o melhor do movimento é sempre na sexta e no sábado”
Há 36 anos na região, a RDE é uma referência. Ana Lúcia de Carvalho, de 52 anos, é gerente da loja onde trabalha há 34 anos. “A gente não costuma contar quantas pessoas passam por aqui por dia, não. Tem dias que a gente da conta, mas tem dias que é muito mais corrido”, diz. Lá, os CDs de cantoras modernas como Bruna Karla fazem o maior sucesso. “Antigamente tinha bem menos diversidade que hoje, mas os clássicos ainda vendem muito”, conta a gerente da loja, que vende CDs de R$ 3 a R$ 19. Entre os clássicos, o preferido de Ana – e da maior parte dos clientes – é o cantor Ozéias de Paula. “Esse é o que mais vende entre os antigos.”
Textos sagrados
As bíblias e seus acessórios também chamam a atenção do público. Camila Causo, de 22 anos, é da Igreja Bíblica da Paz e há um ano e meio ajuda o pai na loja no Galeria Conde de Sarzedas. Entre os produtos mais vendidos da loja estão as capas para bíblias – em especial com as estampas “animal print”. “Essa de tigre faz o maior sucesso com as mulheres”, diz Camila.
Os livros administrativos também têm uma boa procura, especialmente para o público de fora de São Paulo, que também frequenta a região e faz compras por atacado. “Recebemos gente da Bahia, de Santa Catarina, do Rio de Janeiro, e de vários outros lugares.”
Camila afirma que agora, no segundo andar da galeria, já consegue faturar até R$ 8 mil reais. “Quando estávamos no terceiro andar, o movimento era muito fraco, não dava nem R$ 2 mil”, conta Camila. “Aqui é bem melhor, mas o aluguel também é mais caro, mas compensa.” O espaço onde a está a loja da família Causo custa R$ 2,5 mil ao mês – mais uma luva que, mesmo sendo ilegal, chega a R$ 40 mil.
Católicos fora do foco
Em Campo Grande (MS), o Judah Shopping Gospel vende produtos religiosos, mas o público evangélico é o que mais compra. Segundo Gerusa Maria de Oliveira, sócia-proprietária da loja, são cerca de 200 pessoas que vão pessoalmente às compras no local.
Apesar do nome, não se trata exatamente de um shopping, mas de uma única loja que vende todo o tipo de produto, como brinquedos. No entanto, Gerusa conta que as bíblias são as mais procuradas. “É de longe o produto mais vendido por aqui, seguido pelos CD”, afirma.
Desde que foi fundada, três anos atrás, o fluxo de clientes quase triplicou. “Precisamos aumentar a quantidade de produtos e também foi necessário contratar funcionários”, explica Gerusa. Atualmente, trabalham cinco pessoas na loja – dois funcionários, Gerusa, o marido e mais um familiar que ajuda nas contas.
Não fosse pela Jornada Mundial da Juventude, que contou com a visita do Papa Francisco I no ano passado – e injetou R$ 1,2 bilhão na economia carioca –, o mercado de produtos católicos poderia ter tido um 2013 mais tímido. A Expo-Católica aproveitou a visita do líder religioso para impulsionar o número de visitantes. Foram seis dias de evento, com 500 mil pessoas. "Normalmente, recebemos umas 30 mil pessoas nos dias abertos ao público. Esse volume todo não vai voltar a acontecer", diz Kiara Castro e Castro, da Promocat, que promove o evento.
Para Klara, o crescimento do mercado evangélico tem sido um fator de profissionalização também dos produtos católicos. "Agora que os padres e os músicos estão investindo em divulgação e no trabalho de marketing", diz. A curva é tímida, mas de crescimento.
Bíblias em queda
Quem não tem muito o que comemorar são os fabricantes de bíblias. Segundo o maior fabricante do livro sagrado no País, a Sociedade Bíblica Brasileira (SBB), o número de unidades distribuídas em 2013 deve ser igual ao de 2012, de pouco mais de 7,4 milhões unidades – entre livros entre católicos, evangélicos e ortodoxos. No ano passado, o faturamento da empresa foi de R$ 88,8 milhões.
O secretário de Comunicação e Ação Social da Sociedade Bíblica Brasileira (SBB), Erní Seibert, estima que o País imprima hoje cerca de 12 milhões de bíblias por ano, considerando também a produção de outras editoras – o equivalente a um lvro a cada 2,6 segundos.
No entanto, essas são apenas estimativas do executivo. Além de pouco profissionalizado, esse mercado não tem muito controle sobre o que é produzido e distribuído. "Eu tento fazer algum monitoramento, mas não adianta, essas empresas não têm esses números – e as que têm não divulgam", afirma.
Com informações do Portal IG

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