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terça-feira, 23 de julho de 2013

[COLUNA] Uma dívida impagável - por Murillo Leal

A cruz me deu possibilidade de me desnudar diante de Deus.

Hoje, por causa dos efeitos da cruz, vivo no limite. Não tenho mais por objetivo angariar reconhecimentos alheios, não tenho mais buscado estar em lugares de honras humanas, já sou livre das culpas amarradas pela religião, das vergonhas acusatórias e dos medos latentes. A cruz me deu possibilidade de me desnudar diante de Deus.

A cruz me ensinou que Ele não é um ser inescrupuloso que está atarefado em engendrar projetos com intenção de nos sufocar, Deus não é ajuntamento de leis que tem como objetivo nos enquadrar em suas sentenças, que nos fulmina por não atendermos sua mania de grandeza, um ser que apresenta carências em se autoafirmar potente.

Com a cruz, posso adorar um Deus que não se limita em poder, que não precisa exibir sua força para ser quem é, mas posso reconhecer Nele uma paternidade absoluta e uma disposição para amar independente de transgressão, de passado, de experiências e caminhos que tenhamos escolhido. Não é a nossa intenção de coração, nossos sentimentos que nos aproximam de Deus, mas é o amor extravagante da cruz é que nos busca.

Deus não cobra honorários

Vez ou outra me pego querendo discretamente comprar a Graça de Deus derramada na cruz. Essa são marcas de uma religião impregnada em nós. É involuntário, nossa mente de Adão treinada nas escolas contemporâneas do comércio sagrado, faz com que vivamos tentando dar um preço pelo amor de Deus e tentando recompensá-lo de alguma maneira. Eventualmente somos acometidos pelo tamanho dessa loucura, e iniciamos uma corrida em busca de um padrão inatingível de comportamento. Essa corrida torna-se um peso e gera gente fadigada.

A moeda de troca com Deus não é o que fazemos para ele. Deus não cobra para amar. Deus não cobra honorários de serviço. Deus não trabalha na base da troca. Deus não vende mão de obra. A mensagem que ouvimos é que precisamos sempre estar comprometidos em manter um rosto sereno, uma conduta perfeita, ainda que no íntimo do coração tudo seja podre e cheire mal. Não pense você que Deus só vê intenção. Tudo bem, nós podemos até vestir a máscaras de bondade baseada na aparência, mas quando investigamos a fundo o nosso meu coração, só podemos enxergar maldade, podridão e egoísmos.

O evangelho vem nos denunciar. Saber que somos incompletos não é tomar consciência do pecado, mas é entender que o pecado somos nós. Um bom religioso não tem coragem de investigar seu próprio coração, pois ele tem medo do que pode encontrar, mas prefere viver de vitrine, freqüentando a igreja e procurando a Deus olhando apenas para o seu próprio umbigo, ainda que Cristo não represente nada em sua vida fora do círculos religiosos.

Deus me ama, eu descobri, Deus me ama…

Tenho experimentado o cuidado de Deus como nunca antes. Sempre me pego constrangido pela busca intensa de Deus por mim. Me assusta perceber tanto amor de forma gratuita, mas me assusta mais ainda saber que não há como pagar e nem retribuí-lo. Deus nos ama livremente.

Constatei depressa que não posso com esse amor. Ele toma conta de todo o vazio que se encontra em meu coração. Meus pensamentos lutam e relutam para chegar a conclusão de que não cabe tanto amor em um ser, mas meu coração se enche de alegria com a notícia de que eu já fui aceito. Parei com a corrida da religião para me hospedar no resort do seu amor na cruz. Algumas pessoas me procuram para saber porque nunca ouviram isso antes.

A notícia de que depois da cruz, nada mais precisa ser feito se esconde diante de uma realidade de resultados financeiros, pessoais e individualizados. É preciso noticiar para todos, que esse resort da graça é do tamanho do mundo e as vagas não são limitadas. O que é que posso fazer depois da Cruz senão contar ao mundo que nela todos temos a possibilidade de nascer de novo?

Que Deus nos ajude a desengatar da vida religiosa, e inaugurar em nós a consciência dos efeitos da cruz para que assim possamos experimentar a vida nova, em unidade, em comunidade e na individualidade.

Murillo Leal - é jornalista e também escreve nos blogs Crer Pensando e Minha vida Cristã.

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