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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

[CRÔNICA] Todo mundo pode sonhar - Por Jonathas Passos

Pessoas improváveis e um lugar incomum, receita perfeita para uma conversa memorável.
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Essa semana eu presenciei algo surpreendente. Depois de uma aula ótima na faculdade, fui à parada do ônibus para ir ao “trabalho meu de cada dia”. Até então, tudo parecia normal, nada tinha acontecido de diferente e, como sempre, esperei o ônibus por uma quantidade exagerada e desnecessária de tempo e como sempre quando eu mais precisei (Ah vá), ele chegou. E foi dentro do automóvel mais popular do Brasil que presenciei uma coisa que me fez lembrar que, realmente, nenhum dia é igual ao outro. 

Logo quando entrei a primeira coisa que me chamou a atenção foi a presença de uma figura improvável. Era um senhor de mais ou menos uns 60 anos de idade, deficiente físico e visual, que provavelmente não possuía muitas condições financeiras, pois, usava roupas surradas e sujas, além de não possuir nenhum calçado, sem contar o fato de que ele exalava um odor que não era muito agradável. Passei por ele e sentei em uma daquelas cadeiras que são um pouco mais elevadas que as demais e comecei a ler. Contudo, de uns tempos pra cá tenho estimulado uma característica em mim que percebi que é de vital importância pra humanidade, a observação. Claro que não sou nenhum Sherlock Holmes, mas, tenho tentado trabalhar para aperfeiçoar essa característica. Enfim, enquanto estava lendo, percebi que aquele senhor que ali se encontrava não parava de sorrir para si mesmo, pois até então não havia ninguém sentado próximo a ele, já eu continuei a ler e a observá-lo ao mesmo tempo. 

Depois de duas paradas, entrou naquele mesmo ônibus outra figura improvável. Um homem bêbado, com uma lata de cerveja na mão, trocando os passos (realmente eu não sabia se ele sabia que lado era o esquerdo e que lado era o direito), mas mesmo parecendo muito embriagado esse homem teve uma atitude curiosa, depois que passou a catraca olhou para todos os lugares do ônibus, que estava relativamente vazio, e finalmente escolheu um lugar pra sentar, e o lugar que ele escolheu foi ao lado daquele senhor idoso. 

A partir daí a “magia” começou. Eles dois começaram a empreender uma das conversas mais incríveis que ouvi naquele dia. 

O homem bêbado começou perguntando como o senhor estava, e este o respondeu: 

-Eu estou ótimo, ainda não comi hoje, mas de que adianta reclamar não é? 

Então o homem bêbado perguntou: 

-Ainda não comeu, como assim? Já são quase 12h00 da manhã, como é que você aguenta? 

-Ah, depois de um tempo a gente se acostuma. 

-Mas nem a pau que eu me acostumaria com isso – disse o homem bêbado. 

Confesso que nesse momento o livro que eu estava lendo deixou de ser interessante e comecei, descaradamente, a prestar atenção na conversa daquelas duas pessoas improváveis, naquele lugar incomum. Enquanto isso eles continuaram a conversar, o senhor de idade novamente falou: 

-Pois eu não reclamo mais, eu sei que existe tanta gente pior do que eu, pelo menos de vez em quando consigo um almoço digno, tomo um banho bem tomado, mas tem pessoas que nem isso consegue. 

-Ah seu Zé, o senhor é muito bom por pensar desse jeito, não sei se eu na sua situação pensaria assim. 

-Pra falar a verdade eu só sonho em um dia ter alimento todo dia pra eu comer e quem sabe uma casa grande pra morar antes de morrer. – disse o senhor, com extrema tranquilidade. 

-Ixi, o senhor não ta sonhando muito alto não? 

-Ah, eu só sonho assim. O importante é que todo mundo seja feliz e eu também. 

Nesse momento, o homem bêbado se levantou e disse que iria descer. Os dois se despediram e assim terminou essa conversa tão memorável. 

Depois que o homem bêbado desceu continuei a olhar para aquele senhor, e ele continuou sorrindo, não pra mim ou pra qualquer pessoa que estava ali naquele ônibus, mas pra ele mesmo e pra suas certezas e convicções. Eu me peguei impressionado, pois mesmo aquele senhor sendo uma pessoa pela qual ninguém daria nada por ele, e sem contar que, realmente ele não tinha muita coisa pra dar, pelo menos para mim, ele deu coisas incalculáveis. 

Deu-me motivos pra acreditar que meu mundo é maravilhoso, apesar de muitas vezes eu achar que nada está dando certo, ou que tudo está errado, ou que tudo poderia ser melhor, apesar de eu ser tão estúpido ao ponto de nunca estar satisfeito com aquilo que eu tenho. Ele me deu motivos pra acreditar que vale a pena sonhar alto, mesmo que os meus sonhos às vezes pareçam inalcançáveis e impossíveis, ou que as circunstâncias pareçam contrarias, ou que o tempo pareça curto demais para se alcançar aquilo que se deseja. Enfim, ele me fez lembrar que existe um Deus que quer que nós realizemos os nossos sonhos mesmo em meio as dificuldades e que Ele não se esquece de nós mesmo quando nós nos esquecemos d’Ele. 

Aquela conversa feita por pessoas improváveis em um lugar incomum me fez lembrar que todos, podem, e devem sonhar.

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